A insana demonização do sódio

A indústria alimentícia aliada à indústria farmacêutica, ambas municiadas por estudos fraudulentos publicados em blogs de pseudo profissionais de saúde que tentam impor suas vontades e suas ideias esdrúxulas sobre as pessoas com o único objetivo de catapultar suas carreiras e lucrar altas fortunas, enganando e apavorando o povo, demoniza o sódio como se ele fosse o grande vilão da tão propagada e ilusória saúde perfeita que criou o “movimento fitness”, difundida por pessoas que passam mais tempo na academia e na frente do espelho admirando seus músculos do que produzindo conhecimento e tecnologia, mas logo estarão na fila do implante de órteses e próteses.

Interessa à indústria farmacêutica causar pavor, pressionar e cooptar médicos para aterrorizarem seus pacientes com a farsa da pressão ideal “120×80”, ignorando propositadamente que a tensão arterial varia conforme a temperatura ambiente, a altitude (altura em relação ao mar), o estado mental e, mais importante ainda, a idade de cada indivíduo, para lucrar com fármacos anti-hipertensivos cada vez mais caros, ineficazes e perigosos. Enquanto isso, à indústria alimentícia importa vender suplementos alimentares ditos “dietéticos e isentos de sódio” que não passam de uma mistura de farinhas que geralmente não servem para nada, mas…

É graças ao sódio que as pessoas se comunicam. Graças ao sódio as pessoas pensam, as pessoas sentem, as pessoas produzem, e, se não fosse ele, o ser humano não seria nada além de uma montanha de carne amorfa, imóvel e inútil.

“Historicizemos” a evolução da humanidade a partir do uso do sódio na dieta… Será que existe alguma relação entre o aumento da ingestão de sódio, com sua introdução na alimentação como realçador de sabor, e o aumento exponencial da capacidade cerebral e cognitiva do Homo sapiens?

Há uma história, que não é possível comprovar por achados arqueológicos, de que os ancestrais do Homo sapiens um dia caminhavam por alguma praia, carregando uma caça terrestre e acidentalmente a deixaram cair na água do mar. Encontrando-a certo tempo depois e, em épocas de escassez de alimentos e dificuldade de caçar outro animal, resolveram comê-la, mesmo tendo ficado um tempo na água. Descobriram que ela tinha um sabor melhor, mais “gostoso”, certamente devido à impregnação do sódio da água do mar na carne. Desde então, passaram a utilizar águas salgadas, que não existem apenas no mar, para temperar suas carnes, aumentando a ingestão de sódio. Esta hipótese foi mostrada em um episódio de um seriado de televisão norte-americana da década de 1970 sobre a vida pré-histórica.

Com a Revolução Industrial e a consequente fabricação de embalagens que possibilitaram maior tempo de conservação dos alimentos – estas utilizando o sal de cozinha, o NaCl ou cloreto de sódio –, a ingestão de sódio aumentou significativamente, coincidindo com a aceleração do desenvolvimento humano, com as descobertas e invenções que trouxeram aos humanos o conforto do mundo atual. Será, então, que, frente a esta evidência, o aumento do consumo de sódio não aumentou a inteligência do ser humano?

Observe as demais espécies. Repare que elas não empregam nenhum meio de enriquecimento de suas dietas. Alimentam-se sempre da mesma forma e dos mesmos alimentos, mantendo uma atividade física constante e intelectualmente estagnadas, não desenvolvendo uma inteligência como os humanos fizeram. Certamente já tem gente aqui pensando nos animais domésticos, como cães, gatos, pássaros etc., e com uma imensa vontade de escrever no campo de comentários que este artigo é insano, fraudulento, ilusório ou até delirante, porque os “pets” comem, muitas vezes, restos de comida humana, além de as rações industrializadas terem teor de sódio elevado, bem como a prática de se administrar sal grosso ao gado; mas a questão é que os humanos domesticaram animais há menos de 50.000 anos, tempo insignificante perto do que a humanidade levou para evoluir.

Os elementos mais abundantes nos organismos animais são o carbono, o hidrogênio, o oxigênio, o nitrogênio, o sódio, o cloro, o cálcio, o potássio e o magnésio. Os quatro primeiros compõem as proteínas que se encadeiam e formam a estrutura corporal, enquanto os demais geram a energia para que os processos bioquímicos que originam a vida, ou “energia vital”, aconteçam.

Nas membranas das células nervosas, mais especificamente nos axônios, que são as caudas longas dos neurônios, existe uma infinidade de canais iônicos de sódio, por onde ele passa do meio exterior para o interior das células nervosas, deixando na membrana o seu elétron disponível e originando a corrente elétrica que dá, além da vida, tudo o que o ser humano é capaz de fazer na natureza.

O sódio não é o responsável pela hipertensão arterial; ele apenas agrava o problema por reter água e aumentar o volume plasmático dentro dos vasos sanguíneos, o que exerce pressão sobre as paredes vasculares, podendo causar ruptura e culminar no chamado acidente vascular hemorrágico.

O potássio faz o caminho inverso ao do sódio. Está em maior concentração dentro da célula e se movimenta através de canais específicos de potássio para o exterior, também deixando elétrons na membrana celular.

O cloro é um elemento extracelular que entra para o interior através de canais de cloro, retirando elétrons deixados pelo sódio ou pelo potássio e despolarizando a membrana. O cloro é um elemento inibidor da corrente elétrica e funciona atenuando os excessos da polarização da membrana.

O magnésio atua dentro de receptores específicos e funciona como uma espécie de rolha, ou torneira, que permite a entrada ou saída de íons deste tipo específico de receptor, chamado receptor NMDA, operado por glutamato, também chamados de receptores glutamatérgicos.

O ferro, em sua forma ferrosa (Fe2+), também é abundante nos organismos animais, mas não participa diretamente na polarização, despolarização e repolarização de membranas que lhes dão vida. A função do ferro é de transporte de oxigênio para os tecidos, apesar de haver indícios de que ele esteja envolvido na demência senil por compor uma forma de membrana quelante que envolve os axônios dos neurônios do hipocampo e do para-hipocampo, o que parece ser a causa do Alzheimer, mas não há certeza absoluta disso.

A explicação acerca do mecanismo de formação das correntes neurais que dão vida ao organismo exposto acima é rústica, básica e elementar. Apenas o mecanismo de formação da dor já conhecido envolve diversas famílias de canais de sódio, os TRPAs, TRPVs, NaVs e muitos outros. Há milhares de receptores e canais ainda a serem descobertos. Quem desejar se aprofundar no assunto, leia bons livros de bioquímica, de farmacologia e de fisiologia.

Certamente muitas pessoas pensarão que esta é uma teoria absurda e impossível, mas é uma possibilidade, considerando-se que é sabido que o aumento de um elemento químico dentro de um organismo aumenta enzimas, receptores e vias de metabolização para eliminá-lo ou aproveitá-lo, como está fartamente demonstrado na literatura farmacológica. Por que não pode ter acontecido isso com o sódio no organismo humano?

Pesquisas farmacológicas de mecanismos de memorização demonstraram que, estimulando certas áreas cerebrais, aparecem espículas nos dendritos quando há forte processo de memorização. No caso do uso de sódio, estas espículas podem ter aparecido, aumentado, se transformado em dendritos e, com a evolução, se transformado em neurônios especializados.

O experimento de Urey demonstrou que, bombardeando o gás metano, o vapor d’água e o gás amônia com raios elétricos em um reator, formam-se coacervados complexos de aminoácidos que podem evoluir para proteínas, sendo este um dos possíveis mecanismos de surgimento de células, de animais e culminando com os seres humanos. Portanto, a teoria de que o sódio possa ter feito a diferença entre humanos e os demais animais não é tão absurda assim.

[Voltar]

2 pensou em “A insana demonização do sódio

  1. Pingback: Bioquímica | Vladimir Antonini

  2. Pingback: Médicos a serviço da indústria farmacêutica | Vladimir Antonini

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.